Morre o radialista da Nativa, João Luiz Barão

Foram mais de 40 anos de carreira na comunicação gaúcha

A comunicação gaúcha perdeu neste domingo uma das vozes mais marcantes do Estado e que por 19 anos dominou, enquanto audiência, as tardes de sábado na regional Nativa FM.

Ao morrer às cinco da manhã no Hospital de Pinheiro Machado, João Luiz  Barão do Pinho,  71 anos, finalizou sem êxito sua luta contra um câncer de pulmão descoberto há um ano e que lhe permitiu estar ao microfone durante os altos e baixos ocasionados pela doença, até novembro do ano passado.

O cerimonial para as despedidas de amigos e familiares, foi realizado durante todo o dia em uma das capelas do Cemitério Municipal e às 17h30min, o corpo foi encaminhado ao Crematório São José, em Caxias do Sul, para que o desejo do locutor comercial com 46 anos de carreira  fosse atendido.

A vida-Perfeccionista, criterioso, detalhista, dono da uma voz marcante acima de tudo isso talentoso, Barão decidiu retornar ao rádio em 1993, um ano após a fundação da emissora, ao atender o convite do diretor Ildomar Joanol. Exigente consigo mesmo em tudo que costumava fazer, o futuro nome do programa consumiu muitas folhas de caderno e desse e tantos outros episódios, a esposa Marga, com quem ele completaria em breve 32 anos de matrimônio, lembra-se muito bem.- Ele estava na dúvida se aceitaria ou não o convite, ai eu disse: acho que posso te dividir com teu outro amor. Depois disso, ele rabiscou muito papel com nomes e não conseguia chegar a um que o agradasse,  então eu disse a ele, se é algo tão especial assim, porque não chamar-lo de “Sábado Especial ?” –

Barão, com a esposa Marla e os três filhos

Marga teve duas filhas com Barão, Aliz e Antúzia e nesta tarde, após o cerimonial, a presença e apoio da mãe de Alexandre, o primeiro filho do locutor com Maria Inês, demonstrou a amizade entre elas.

- Nos despedimos do nosso marido - A frase externou os laços e na conversa, todos relembraram o jeito de ser e a vida profissional do apresentador e os muitos momentos e veículos que marcaram sua carreira no rádio e na televisão.

Ele começou na Rádio Pelotense em 1966 e depois passou pela Difusora, hoje Bandeirantes, TV Gaúcha, TV Piratini, atualmente TV Cultura relembrou o filho mais velho.

As manias- Um locutor a moda antiga, João Luiz Barão não abria mão de  atuar da mesma forma que começou e exigiam os veículos da década. O script que envolvia uma equipe de produção, formava às vezes dez folhas e era o pânico do operador de áudio que tinha que acompanhar a leitura a cada vírgula.

Toda vez que o seu operador preferido não podia se fazer presente, o substituto tremia diante dos possíveis erros de mixagem e programação que poderia cometer, erros que não eram admitidos, mas ao final, pelas boa prosa quando o microfone estava fechado e a quantidade de guloseimas trazidas por ele, eram perdoadas.

Ao microfone da Nativa FM, 19 anos de total audiência

- Ele não aceitava erros. Muitas vezes me chamou de babão quando eu não soltava as vinhetas, colocava a trilha alta demais e outros erros e, quando isso acontecia, ficava irritado e de cabeça baixa – relembra com risadas o locutor e colega Luciano Rodrigues, que mesmo após passar a apresentador continuou a assistir Barão na mesa de áudio, função que ocupou por quatro anos. Luciano lamentou em sua conta na rede social a morte do amigo postando: Vá em Paz meu Amigo Barão. Que Deus te receba em seus braços acolhedores. Ficará pra sempre a lembrança desse grande amigo e colega com quem tive muito orgulho em ter trabalhado. Deixará  saudade e que descanse em paz. Meus sentimentos aos familiares!!!

 A preferencia por Luciano aos sábados era tamanha, que mesmo quando ele  tirou suas férias, em novembro do ano passado, Barão não abriu mão de sua companhia,  o recompensando do próprio bolso para que  ao menos nos dias de programa ali ele estivesse durante as cinco horas de duração do Sábado Especial. Antes dele, Bigo Pinheiro que atuou na rádio até 2006, foi o preferido.

 A última homenagem - E Bigo teve a oportunidade, ao pescar com o locutor, de conhecer o lugar onde as cinzas de Barão serão jogadas.

 - Mesmo sendo um lugar íngreme, de difícil acesso, ele adorava enfrentar as subidas e pedras para ali ter contato com a natureza., A ausência de poluição, o silêncio e o isolamento deste local, faz  meu coração dizer que é lá que ele quer estar – contou Marga,referindo se ao recanto predileto do marido localizado no distrito Alegrias, interior de Pinheiro Machado e de propriedade do irmão Diogo.

Leia abaixo, a mensagem, momento sempre muito esperado pelo ouvinte, lida por Barão ao final do último programa  Sábado Especial e que foi ao ar em 17/11/2012.

Tiro a terra do meu chão, o teto da minha cabeça ,a roupa do meu corpo, e a imagem que antes refletia no espelho.

Andarei sem mover os pés, avistarei o alto de uma colina qualquer.Sentirei o vento passar por mim,como folhas e galhos de uma arvore descobrindo os seus próprios segredos.....

E, só assim voltarei mais tarde para o jantar ,trazendo vinho tinto e velas brancas junto a ti;