Segunda-feira- 26 de março de 2018-
Fotó: Paulo Rossi- Especial DP |
Desde o ano passado,
profissionais da área de saúde tentam encontrar uma possível explicação para um
fenômeno, preocupante. Após passar pelo menos seis anos sem um único nascimento
de um bebê com algum tipo de malformação, em 2017 foram sete casos registrados
na cidade de pouco mais de 20 mil habitantes. Pior: em três deles as crianças
não resistiram às complicações decorrentes dos problemas no desenvolvimento e
morreram.
De acordo com DataSus,
Departamento do Ministério da Saúde que coleta e administra as informações
sobre o tema em todo o país, o último apontamento de morte por malformação no
município havia sido em 2008. Em nenhuma vez, desde 1998, houve mais de um
óbito no mesmo ano. Razão pela quais médicos e enfermeiros acenderam o sinal de
alerta e passaram a tentar identificar possíveis razões para o alto número de
ocorrências.
Obstetra com mais de 44 anos
de experiências e há 11 realizando partos em Piratini, Fernando Luís Medina
conta que se espantou com a alta ocorrência de defeitos congênitos no ano
passado. “Tivemos apenas um bebê com fenda palatina no ano passado, [abertura
no lábio e céu da boca] em que a mãe teve lábio leporino, então há relação. Nos
demais não existe causa aparente” O médico diz que, diante dos sete casos
acumulados, chegou a conversar com a equipe de enfermagem para investigar se
havia algum outro fator causador dos problemas. “Conversamos com as mães,
esmiuçamos os detalhes e não foi possível correlacionar ou encontrar um por
que”, afirma.
Apesar de atípica diante do histórico
recente de registros na comunidade, a quantidade de malformações diante dos 140
partos de 2017 no município se encaixa na média geral de uma a cada 30
nascimentos. É o que afirma o médico geneticista Gilberto de Lima Garcias. Especialista em defeitos congênitos. Ele
ressalta que, por mais que a situação piratiniense pareça anormal, não há razão
para sobressaltos. “A frequência não obrigatoriamente segue os anos civis.
Algumas doenças só são medidas em
décadas por serem raras”, explica. E completa assegurando que o aumento
repentino de malformações em Piratini é uma casualidade.“È o que se chama em
epidemiologia de distribuição aleatória dos achados. Em português mais simples:
efeito do acaso. Muito provavelmente não deve se repetir nos próximos anos.
Cuidado
permamente
Com a energia habitual de
uma criança de pouco mais de um ano,
Alex Afonso Ribeiro corre de um lado para o outro na casa da avó. Nem parece
que tão novinho já precisou enfrentar duras batalhas pela vida. Com hérnia
diafragmática congênita (HDC, problema no diafragma que impede a separação
entre pulmões e coração de intestino, fígado
e estômago) e onfalocele (abertura no abdômen em que os órgãos ficam expostos
em uma espécie de bolsa transparente) passou por duas cirurgias.
Mesmo tão sérias, as
malformações só formam descobertas pela jovem mãe, Eduarda Afonso, 15, e pela
equipe médica no momento no parto. “Com uma gravidez tranquila, nenhum exame
durante o pré – natal havia apontado o risco para o bebê. “Foi um susto.
Somente depois soubemos de todos os problemas e que existia a possibilidade de
descobrir antes com um ultrassom morfológico e passar por uma cirurgia
intrauterina em São Paulo”, recorda.
Passado o susto, Alex está
bem. Mas como ainda precisa passar por outra intervenção para proteger o coração-
acima do tamanho normal, que bate forte a ponto de ser visível acima da
cicatriz no peito, todo cuidado é pouco.
“Estamos o tempo todo de olho para ele não cair forte, não se machucar.
Sabe como é criança”, diz a avó, Vera Beatriz, 53.
Sofrimento
pela Perda
Aos 31 anos, Ana Paula D’
Ávila (foto) esperava estar agora apenas iniciando a realização dos planos feitos
durante anos com o marido Rubilar Dias, 38, juntos há 15 anos, esperavam com
ansiedade pelo pequeno Arthur. No entanto, no final do ano passado descobriram
por acaso, em meio a exames devido a complicações na gravidez, que o bebê tinha
HDC.
Com a notícia tardia da
malformação somada uma gravidez de risco e a falta de estrutura na cidade para
lidar com a situação, Ana Paula iniciou uma corrida contra o tempo em busca de
tratamento em São Paulo, “Fizemos campanha, arrecadamos dinheiro e estávamos
prontos para ir. Sairíamos de Piratini na terça-feira, 2 de janeiro. Mas no
domingo, 31 de dezembro, senti dores fortes e entrei em trabalho de parto, com
26 semanas e seis dias”, lembra. Internada às pressas no Hospital – Escola
Federal de Pelotas passou por uma cesariana de emergência. Arthur não sobreviveu.
Embora saibam que a
malformação não tema ver com o casal, ou seja, fruto de falta de
acompanhamento, ambos lamentam não terem acessado desde cedo exames detalhados
como o ultrassom morfológico, capaz de identificar o problema e aumentar as
chances de vida do filho.
“Se não há equipamentos e
recursos para lidar com o problema, que encaminhe para onde existe. Sem isso
daqui a pouco pode acontecer de novo”, lamenta Rubilar.
Em
busca do equipamento
Com tantos casos que
poderiam ter sido identificados prematuramente e reduzido risco, a equipe
obstétrica do município pensa em formas de adquirir um equipamento de ultrassom
morfológico para atender as pacientes. “O pré- natal de baixo risco o protocolo
do Ministério da Saúde diz que não há necessidades deste exame, por isso não
temos como fazer ou encaminhar pelo SUS, explica Luciane Gomes, enfermeira
chefe do setor obstétrico do Hospital de Caridade Nossa Senhora da Conceição.
Na rede particular, um
ultrassom morfológico custa em media R$ 250,00. Para que o hospital de Piratini
fosse capaz de fazer o exame existiriam duas opções: um contrato entre o
município e o atual prestador de serviço de ultrassom para que fizesse os
exames usando o aparelho atua oi investir em torno de R$ 120 mil em um
equipamento mais moderno, também contratualizando um número mensal de exames
pagos pela prefeitura para que as gestantes não dependessem apenas de
consultórios privados.
Os
casos
Entre 1998 e 2016 Piratini
havia registrado sete mortes de bebês causadas por malformação, conforme o
DataSus.
2008
-
1 caso, 2007- 0, 2006 –1 caso, 2005- 1 caso, 2004, 1
caso,
2003- 0,
2002- 1- 2002- 1, 2001- 0, 2000 - 0, 1999 -1- 1998 - 1
- Em 2017, foram sete
registros de crianças com malformação, com três óbitos
- Um caso de hipertrofia do
ventríloquo esquerdo
- Um caso de hérnia
diafragmática congênita agravado por nascimento prematuro
- Um caso de morte fetal (malformação)
Reportagem: Vinicius Peraça-
Diário Popular-www.diariopopular.com.br
Reportagem: Vinicius Peraça-
Diário Popular-www.diariopopular.com.br
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