segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

O homem que eu amava tentou me matar. Quero Justiça

Segunda-feira- 28 de janeiro de 2019
                                   

O homem que eu mais amei tentou me matar! Com essa frase dramática uma mulher de 32 anos, resume sua decepção e desencanto com então parceiro com quem esteve casada por sete anos, relacionamento que gerou uma filha, menina esta que, junto aos dois irmãos também menores, estava em casa quando, no princípio da madrugada de 04 de setembro de 2018, o homem de 46 anos invadiu o quarto onde sua ex- mulher dormia e aos gritos de “se você não for minha não será de mais ninguém”, a esfaqueou cinco vezes, sendo duas das facadas na jugular, e que só não resultou em sua morte porque ela acordou e segurou a faca, impedindo que ele a matasse.

Ela foi a única vítima de tentativa de feminicídio no ano passado em Piratini, e uma das 83 mulheres agredidas de alguma forma pelos atuais ou ex- cônjuges,(dados da Secretaria de Segurança Pública) agressões que deixaram sequelas.

“Fiquei abalada. Depois que sai do hospital praticamente não dormi por quarenta e cinco noites consecutivas”, relembra, ao contar que ficou assombrada e por isso tinha apenas pequenos cochilos, mas acordava achando que ouvia passos e que alguém havia forçado a porta.

Da convivência com o agressor que está preso, ela conta que ele se encaixa no perfil traçado pelos especialistas no assunto que dizem que tudo começa com agressões verbais, mas que por outro lado, o homem com quem convivia nunca demonstrou ser capaz de agredi-la.

“Agressão com palavras tinha e muito, mas com relação à situação física ele nunca se mostrou violento ou fez menção de que chegaria a esse ponto, por isso, até o momento não consigo encontrar palavras para definir o que sinto, e afirmo que só uma mulher vivendo o que vivi para saber como realmente é depois de um ato de violência desses, pois você se dá conta que não conhece de fato a pessoa com quem foi casada. É uma dor incurável, não será possível esquecer”, desabafa.

Na audiência preliminar, que aconteceu em dezembro último, ela disse que teve outra decepção, pois mesmo ainda não tendo que encara-lo frente á frente na sala de audiências do Fórum da cidade, cruzou com o agressor na sala de espera.

“Não sei qual será minha reação quando finalmente eu tiver que, na presença dele, reafirmar o que ocorreu. Vou precisar de muito autocontrole, já que no único momento em que o encarei depois do acontecido, não percebi nele nenhum arrependimento, pelo contrário, ele estava com um semblante de deboche”.

Com relação ao desfecho que o episódio poderá ter, ela disse se sente intranquila diante da possibilidade do homem aguardar a sentença ou o julgamento em liberdade, pois isso a mantém-se incógnita com que ele poderá vir ainda fazer.

“Preciso saber o que vou fazer da minha vida, seguir em frente. Quero que ele seja condenado e por alguns anos possa refletir sobre o que fez, para que tenha noção de ao menos uma parte do que eu passei, do que ele me fez sentir, imaginar um pouco do que eu sofri durante e depois que ele me esfaqueou”, conclui.

                                  Porque eles agridem suas companheiras ?


Gerusa atende mulheres que passaram pelo trauma
Mas por que eles batem e se sentem dominantes sobre o outro sexo? Indagada sobre isso,  psicóloga Gerusa Porto que coordena o Centro de Apoio Psicossocial (Caps)  e que atende também mulheres vítimas de violência doméstica, disse que há uma distorção nítida ao longo da história no que diz respeito a um autoritarismo por parte do homem em relação a mulher que permite ou da uma brecha para a violência.

Segundo ela, mesmo diante do sentimento que a violência causa na mulher esta acabou por introjetar inconscientemente um papel de submissão a este, gerando um sentimento de impotência em denunciar e em manter muitas vezes a denúncia levando esta a voltar atrás por medo e sentimento de impunidade e desvalia.

Ela alerta que existem vários tipos de violência, e muito antes da violência física praticada, existe a psicológica, que fere profundamente.

“São palavras e atitudes diárias que levam a pessoa (no caso a mulher) a acreditar que não tem valor, que não é capaz de pensar e "ser" por si mesma. Portanto é muito importante dentro de um relacionamento perceber como este se conduz e se dentro da relação estabelecida existe cumplicidade, amor, respeito, parceria e principalmente projetos de vida comuns a ambos os lados”, opina.

Para ela, se o relacionamento inicialmente foi estabelecido a partir de uma relação de dependência, não só financeira, mas principalmente afetiva, e não por escolha e afinidade, provavelmente mais à frente haverá uma situação de agressão, pois quando não há igualdade se cria uma convivência baseada em um autoritarismo, como se uma parte fosse "dona da outra" causando muitos prejuízos a nível emocional, gerando relações doentes e desprovidas de respeito e consciência da individualidade tão importante para a felicidade de qualquer pessoa e ou relação.

                    A necessidade de uma estrutura para enfrentar o pós-trauma

Para a delegada de polícia Valquíria Meder, substituta na Delegacia da Mulher de Pelotas, o ideal seria que a estrutura disponibilizada à mulher vítima de violência doméstica existente no município estivesse à disposição em outras cidades, já que no município há diversas ferramentas que na sua concepção funcionam de forma exitosa.

“Aqui temos um número elevadíssimo de casos desta natureza, mas possuímos uma estrutura que funciona muito bem, que vão das medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha e requisitadas pela vítima ao Poder Judiciário através delegado, até a permanência da agredida na Casa de Acolhimento para as que estão em risco iminente”, destaca a delegada.

 Fazendo também parte dessa rede para o pós-trauma, existe ainda o Centro da Mulher, onde é oferecida uma assistente social, atendimento psicológico e, em casos específicos, e se ele concordar, ainda o encaminhamento do agressor para o tratamento.

“É importante destacar a atuação da Patrulha Maria da Penha, realizada pela Brigada Militar para fiscalizar se as medidas protetivas impostas estão efetivamente sendo ou não cumpridas. A partir daí, os policiais fazem um relatório e encaminham à justiça. Enfim, opino que em Pelotas temos ferramentas eficazes que possibilitam à mulher vítima desse tipo de violência para que ele receba todo o apoio para sair dessa situação”, destaca a policial.

Nael Rosa- redator responsável
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