Para Simpa, profissão traz riscos, mas também é gratificante
Sirene e giroflex ligados que alertam e abrem caminho no trânsito, seja ele em
via urbana ou em rodovias, na velocidade compatível com a necessidade do
transportado que precisa de atendimento de emergência: diariamente esse é o
cotidiano do condutor de uma ambulância, cheio de riscos e ciente de que o
paciente depende de sua habilidade ao volante para ter suas chances de vida
aumentadas.
Em Piratini, quatro motoristas responsáveis ganham
a vida transportando pessoas que são atendidas inicialmente no Pronto
Atendimento do Hospital Nossa Senhora da Conceição e, devido à urgência ou
gravidade dos casos, precisam ser transferidos às cidades que são referência.
Valdenir da Luz Silveira, o Simpa, de 46 anos, é
funcionário público municipal e atualmente, dentre os quatro, com mais tempo de
carreira: são dez anos a serviço da Secretaria Municipal de Saúde.
“É uma função perigosa, sendo o principal risco a
velocidade, para que a vida do transportado seja salva. É normal ouvir do
médico, depois que o paciente está estabilizado, que se demorássemos mais
alguns minutos não teria sido possível salvá-lo. Por exemplo, ao fazer 100
quilômetros – distância entre Piratini e Pelotas – em apenas 45 minutos é
arriscar nossas vidas para salvar dos outros”, entende Simpa.
Para ele, ter uma boa saúde mental é quase uma
obrigação, pois geralmente no banco do carona viaja o acompanhante do enfermo,
muito nervoso diante da possibilidade da perda do familiar, que é monitorado e
atendido pela técnica de Enfermagem. Quando não é possível chegar a tempo há a
frustração, mas ao mesmo tempo se faz necessário amparar quem perdeu seu ente.
“É bastante complicado. Você tem que estar bem
psicologicamente naquele dia e no posterior também, pois talvez até antes
poderá ter um novo caso. Logo quando comecei a dirigir ambulância e o paciente
falecia no caminho, eu chegava em casa abalado, uma vez que a dor do familiar
atinge, mas com o tempo entendi que preciso primeiro amparar, pois a reação de
quem vê o outro partir pode ocasionar situações diversas”, explica o motorista,
que relembra um fato que lhe assustou.
“Uma vez, ao ouvir que a mãe tinha morrido – e
quando isso ocorre paramos a ambulância -, a filha abriu a porta e saiu
desesperada em meio a um trânsito pesado de carretas. Sem saber o que ela
poderia fazer, abracei nela para evitar um acidente”, relata.
Mas há momentos na vida de condutor que ele também
é vencido pela pressa, mas nesse caso, significa vida, nascimento, satisfação e
felicidade. Como o hospital piratiniense nem sempre conta com o serviço de
Obstetrícia – o que é a atual realidade -, as gestantes também dependem dos
motoristas para que seus bebês nasçam em uma unidade de saúde.
“Muitas vezes já não deu tempo de chegar à
maternidade, então os bebês nascem no meio do caminho. Quando isso acontece e
termina tudo bem, agradeço a Deus. Nunca, até hoje, nós motoristas perdemos um
deles, que vem ao mundo amparado pela enfermeira e dentro da ambulância”, diz
Simpa.
Na profissão, o lado humano herdado de seu pai – que
já partiu e também era motorista de ambulância – que foi homenageado neste ano
ao ter seu nome, Jabu da Luz, dado a uma estratégia de saúde da família (ESF)
pelo carinho com que tratava os pacientes.
Com isso, Simpa
carrega consigo a máxima ensinada por seu pai: “Ele sempre me ensinou a tratar
bem as pessoas, principalmente aqueles que conduzimos, pois sempre me dizia que
é melhor transportar do que ser transportado, já que amanhã poderá ser eu a
precisar. Se isso acontecer, vou depender da boa vontade dos outros, então
ajudo no que é preciso. Geralmente são pessoas carentes, longe de casa, em
leitos ou à beira dele e se encontram sem estrutura ou sem dinheiro até para se
alimentar, tanto que eu já dividi um cachorro-quente com uma acompanhante que
disse que não comia por dois dias. Temos que dar a nossa parcela de
contribuição. Isso meu pai me ensinou e levo comigo”, encerra.
Nael Rosa- redator responsável
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