segunda-feira, 29 de julho de 2019

A rotina de quem arrisca a vida para salvar vidas

Segunda - feira, 29 de julho de 2019- Fonte: Jornal Tradição Regional
Para Simpa, profissão traz riscos, mas também é gratificante

Sirene e giroflex ligados que alertam e abrem caminho no trânsito, seja ele em via urbana ou em rodovias, na velocidade compatível com a necessidade do transportado que precisa de atendimento de emergência: diariamente esse é o cotidiano do condutor de uma ambulância, cheio de riscos e ciente de que o paciente depende de sua habilidade ao volante para ter suas chances de vida aumentadas.

Em Piratini, quatro motoristas responsáveis ganham a vida transportando pessoas que são atendidas inicialmente no Pronto Atendimento do Hospital Nossa Senhora da Conceição e, devido à urgência ou gravidade dos casos, precisam ser transferidos às cidades que são referência.

Valdenir da Luz Silveira, o Simpa, de 46 anos, é funcionário público municipal e atualmente, dentre os quatro, com mais tempo de carreira: são dez anos a serviço da Secretaria Municipal de Saúde.

“É uma função perigosa, sendo o principal risco a velocidade, para que a vida do transportado seja salva. É normal ouvir do médico, depois que o paciente está estabilizado, que se demorássemos mais alguns minutos não teria sido possível salvá-lo. Por exemplo, ao fazer 100 quilômetros – distância entre Piratini e Pelotas – em apenas 45 minutos é arriscar nossas vidas para salvar dos outros”, entende Simpa.

Para ele, ter uma boa saúde mental é quase uma obrigação, pois geralmente no banco do carona viaja o acompanhante do enfermo, muito nervoso diante da possibilidade da perda do familiar, que é monitorado e atendido pela técnica de Enfermagem. Quando não é possível chegar a tempo há a frustração, mas ao mesmo tempo se faz necessário amparar quem perdeu seu ente.

“É bastante complicado. Você tem que estar bem psicologicamente naquele dia e no posterior também, pois talvez até antes poderá ter um novo caso. Logo quando comecei a dirigir ambulância e o paciente falecia no caminho, eu chegava em casa abalado, uma vez que a dor do familiar atinge, mas com o tempo entendi que preciso primeiro amparar, pois a reação de quem vê o outro partir pode ocasionar situações diversas”, explica o motorista, que relembra um fato que lhe assustou.

“Uma vez, ao ouvir que a mãe tinha morrido – e quando isso ocorre paramos a ambulância -, a filha abriu a porta e saiu desesperada em meio a um trânsito pesado de carretas. Sem saber o que ela poderia fazer, abracei nela para evitar um acidente”, relata.

Mas há momentos na vida de condutor que ele também é vencido pela pressa, mas nesse caso, significa vida, nascimento, satisfação e felicidade. Como o hospital piratiniense nem sempre conta com o serviço de Obstetrícia – o que é a atual realidade -, as gestantes também dependem dos motoristas para que seus bebês nasçam em uma unidade de saúde.

“Muitas vezes já não deu tempo de chegar à maternidade, então os bebês nascem no meio do caminho. Quando isso acontece e termina tudo bem, agradeço a Deus. Nunca, até hoje, nós motoristas perdemos um deles, que vem ao mundo amparado pela enfermeira e dentro da ambulância”, diz Simpa.

Na profissão, o lado humano herdado de seu pai – que já partiu e também era motorista de ambulância – que foi homenageado neste ano ao ter seu nome, Jabu da Luz, dado a uma estratégia de saúde da família (ESF) pelo carinho com que tratava os pacientes.


Com isso, Simpa carrega consigo a máxima ensinada por seu pai: “Ele sempre me ensinou a tratar bem as pessoas, principalmente aqueles que conduzimos, pois sempre me dizia que é melhor transportar do que ser transportado, já que amanhã poderá ser eu a precisar. Se isso acontecer, vou depender da boa vontade dos outros, então ajudo no que é preciso. Geralmente são pessoas carentes, longe de casa, em leitos ou à beira dele e se encontram sem estrutura ou sem dinheiro até para se alimentar, tanto que eu já dividi um cachorro-quente com uma acompanhante que disse que não comia por dois dias. Temos que dar a nossa parcela de contribuição. Isso meu pai me ensinou e levo comigo”, encerra.


Nael Rosa- redator responsável
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