segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Poeta presta homenagem à João Luiz Barão


   LOCUTOR DE SANGUE AZUL

"O fruto de cada palavra retorna a quem a pronunciou."
                               (Abu Shakur, Poeta Persa do Século X)
                                           .......

O recente falecimento do radialista João Luiz Barão, em 20 de janeiro de 2.013,  o inscreve no memorial dos grande nomes da radiofonia brasileira. Tenho convicção disso pois sei que não é preciso se estar em grandes empresas de radiodifusão para se ser grande. E o Barão, como era conhecido, era grandioso pela energia que dedicava a seu trabalho, a cada sábado, na Rádio Nativa FM.  
Eu estudava Direito em Pelotas e vinha, aos fins-de-semana, para a casa de meus pais na Costa do Barrocão, isso quando ainda não havia energia elétrica. Em um rádio a pilha, escutávamos a recém inaugurada Rádio Nativa FM, uma novidade para os piratinienses pois nosso município ganhava seu primeiro veículo de comunicação sonora.
E foi num sábado de verão, após saborear vinho artesanal no almoço com minha família,  que, ao me recostar para a tradicional sesta, fiquei positivamente surpreendido com aquela voz aveludada e de dicção perfeita que chegava em nosso lar pelas ondas do rádio portátil de meu irmão. Não era somente a forma (timbre e correta pronúncia das palavras) mas o conteúdo do que aquele locutor veiculava, desde a mensagem que abria o programa, com uso de figuras de linguagem, as piadas convenientemente escolhidas para um público diversificado de crianças, jovens e adultos, as informações surpreendentes sobre temas gerais e o poema de fechamento acompanhado de um sucinto “tchau”.
Alguém me disse, há muito, muito tempo: “rádio não é vitrola”, ou seja, é muito fácil o locutor ficar somente rodando músicas, é necessário se oferecer mais aos ouvintes. E isso, Barão fazia com maestria.
Fui seu colega de emissora por vários anos, e mantínhamos uma relação muito amistosa, com liberdade bastante para nos imitarmos, mutuamente. Eu o apelidei de “locutor de sangue azul”, uma alusão ao título nobre (barão) do seu sobrenome. Ele, ao microfone, brincava com meu sotaque ao dizer “dobre v, dobre v, dobre v” ao invés de “w” (dáblio). Ele me escutava quando eu apresentava de segunda-feira à sexta-feira, o Raízes da Terra 1ª Edição, dediquei-lhe muitos causos e músicas, oportunamente em que convidava os ouvintes para “escutarsh” (Barão tinha a fineza de chiar os últimos erres) o seu Sábado Especial. Aquilo  tudo era muito saudável entre nós.
Por várias vezes, perguntava-lhe e ele me contava com detalhes sobre os tempos difíceis de sua profissão em rádio e televisão quando os censores (agentes do governo federal) vistoriavam todos os  textos antes de serem emitidos pelas emissoras. Com o fim da censura, Barão continuou na mesma preocupação de escolher as palavras certas a serem ditas e as músicas para fundo delas.
A epígrafe deste texto não foi escolhida por acaso: João Luiz Barão, onde estiver, está a colher os doces frutos das inúmeras palavras benfazejas que nos disse pelo rádio.

JUAREZ MACHADO DE FARIAS
     Advogado. Radialista.


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