Quinta-feira- 25 de abril de 2019
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Vicente Amaral vive hoje em uma clínica geriátrica em Pelotas |
Um vídeo postado na noite da
terça-feira (23) em vários grupos de redes sociais comoveu milhares de
Piratinienses, o que rapidamente acabou por gerar centenas de comentários
criticando a família do personagem da filmagem realizada no interior de uma
Casa Geriátrica situada em Pelotas.
Nele, o taxista Vicente Amaral,
74 anos, aparece implorando para a filha, Patrícia Amaral, que o retire do
local onde está vivendo. Muito emocionado, Vicente reclama da vida que leva na
instituição especializada em cuidados com idosos e clama para voltar para casa.
Diante da repercussão negativa do
fato, a reportagem Eu Falei entrou
com contato com Patrícia, que é enfermeira e também fisioterapeuta na cidade em
que o pai agora vive. Ela disse ter ficado emocionada com a situação e lamenta as
acusações que vem sofrendo, inclusive com denúncias ao Ministério Público mesmo
antes da aparição do vídeo, ela chorou por diversas vezes ao longo dos 25
minutos em que a entrevista durou, e disse que não vive mais em paz dado à falta
de ajuda por parte do irmão Rafael Amaral e da incompreensão das pessoas com o
drama que ela e o pai vivem desde que ele teve um Acidente Vascular Cerebral
(AVC) em agosto de 2018 e ela precisou tomar a frente dos cuidados que ele
necessita.
”Quando vi os vídeos também me
emocionei ao ver meu pai chorando e dizendo que só quer a liberdade. Colocando-me
no lugar de quem assistiu, fiquei imaginando a tristeza e a indignação e que
muitas pessoas devem estar me julgando sem conhecer a realidade, sem saber que
meu pai está mentalmente doente”, disse Patrícia.
Ela destaca que enquanto
profissional da área de saúde e também filha, em momento algum faria algo para
prejudicar o próprio pai e frisa que 90% das pessoas que tem um derrame
cerebral não aceitam a doença e depois de certa melhora física e motora querem
voltar para a vida que tinham anteriormente, o que ela entende, mas que isso é
impossível diante do estado de saúde de Vicente.
“Há nove meses cuido sozinha de
toda essa situação. Meu irmão foi chamado pela Promotoria e manifestou que não
poderia ficar com nosso pai. Passei 90 dias no hospital com ele internado sem
ajuda que esperava ter. “Preciso que o Rafael assuma por um tempo porque estou
psicologicamente esgotada”, reclama.
Patrícia revelou que os custos
mensais com o pai ultrapassam os R$ 7 mil, mais de 50% desse montante é gasto com
a clínica, sendo a renda mensal dele de penas R$ 2 mil por mês, assim o
restante tem sido bancado por ela para que Vicente tenha cuidados especiais 24
horas por dia, o que ela até tentou dar no inicio quando alugou um apartamento para
ambos e contratou pessoas para lhe ajudar.
“Não deu certo por dois motivos: muitas
vezes a pessoa contratada não comparecia para trabalhar e eu tenho dois
empregos com os quais tenho minhas responsabilidades. O outro fator é que quem
presta esse tipo de serviço exige carteira de trabalho assinada, o que eu não
tenho condições de oportunizar, então em comum acordo com o pai ficou decidido
que ele iria para um local especializado, e assim fiz”, explica.
Ela disse que se comove com o
choro de Vicente ao pedir para retornar para a vida que tinha até então, mas
que laudos médicos atestam que isso é impossível, pois ele tem muitas limitações
e precisa de cuidados constantes e profissionais que ela não conseguiria dar.
“Se alguém de Piratini garantir a estrutura que ele precisa em tempo
integral eu aceito, mas é necessário que essa pessoa realmente se
responsabilize, ao contrário disso eu posso ser processada por deixar ele em
casa sem os devidos cuidados”, disse Patrícia que conclui:
“Estou me manifestando em
respeito à comunidade, mas necessito de paz para seguir em frente. Não vou
responder as ofensas que estou sofrendo nas redes sociais, mas fui aconselhada
por um promotor a registrar Boletim de Ocorrência e tomar providências contra
essas pessoas, afinal sou uma pessoa idônea e tenho uma reputação a zelar”.
Nael Rosa- redator responsável
Contato: 53-84586380
Cel: 9-99502191
Naelrosa@nativafmpiratini.com
Leia abaixo a manifestação enviada à nossa redação.
Meu pai recebeu uma visita na
clinica e essa pessoa filmou seu pedido para voltar para sua casa, o seu desejo
de retomar a sua vida, de estar com as suas coisas.
Quando vi os vídeos também me
emocionei ao ver meu pai barbudo, chorando e dizendo que só quer a liberdade. Colocando-me
no lugar de quem assistiu, fiquei imaginando a tristeza e a indignação e que
muitas pessoas devem estar me julgando sem conhecer a realidade, sem saber que
meu pai está mentalmente doente.
Ninguém mais do que eu gostaria
que meu pai estivesse pleno, em sua casa, cuidando de sua vida e conversando
com seus amigos, fazendo a sua barba. Mas infelizmente, ele não tem mais
condições de morar sozinho e precisa de auxílio para suas tarefas pessoais e de
tratamento especializado.
Meu pai sofreu um AVC frontal
direito que pega uma área cognitiva, que afeta a consciência, traz alteração de
humor e comportamento impulsivos. Ele está sendo acompanhado por um psiquiatra
que emitiu um laudo dizendo que ele não tem plena consciência de suas ações.
É como se ele não tivesse
consciência das suas limitações, mas tem o desejo de fazer o que sempre fazia.
É um cenário muito triste e que
desejo que ninguém tenha que passar por isso. Mais triste ainda, é ver algumas
pessoas se aproveitam disso, fazendo vídeos que expõem meu pai e tentam criar a
ideia de abandono ou de interesse econômico.
Meus pais me educaram e Deus
sempre me orientou pelo caminho do bem. Meus pais não tiverem condições de
custear meus estudos, fui atrás e nunca desisti de buscar conhecimento e de ter
uma vida melhor. Hoje, os recursos de meu pai não conseguem custear o seu
tratamento e eu não meço esforços para ajudar, garantido que ele tenha todo o
tratamento necessário, incluindo fisioterapia semanal que lhe ajudou a retomar
a maior parte das funções motoras.
Como acontece em muitas famílias,
meu irmão não é presente a não me ajuda com o meu pai, sua participação se
resume e visitas esporádicas e criticas ao que faço. Gostaria muito de ter outra realidade, não
precisar trabalhar de sol a sol, ter apoio de meu irmão e de colocar o meu pai
em nossa casa e dividir os custos de cuidadoras com ele, levando e trazendo ele
dos médicos que precisam vê-los semanalmente.
Na verdade, todos sabem que não é
fácil cuidar de uma pessoa idosa com sérios problemas de saúde e confusão
mental e que às vezes nem a barba quer fazer. Mas assim como meu pai, todos
desejamos que as coisas fossem como nosso pensamento gostaria e não como elas
realmente são. Desde minha avó que se dizia que falar é fácil, difícil é fazer.
Sei que estou fazendo o que posso
com a melhor intenção e boa vontade. Fico à disposição de quem quiser mais
informação, de quem quiser cópia de laudos médicos ou visitar meu pai.
Patrícia Amaral
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