Mandico falou com orgulho das tradições deixadas pelo pai |
“Lá vem o juca na mula, e acho que vem pra cá. Deve trazer a cachaça e já vir louco de gambá. Faz um mate bem bueno antes do bicho chegar”.
Fala única, conhecida de cor e salteado pelos
piratinenses, ei uma das marcas do gaúcho mais bagual do Sul do Estado. Erni
Pereira Alves não só foi uma das ilustres figuras piratinenses, dando nome ao
Centro de Eventos onde acontecem as comemorações da Semana Farroupilha, como é
a representação do gaúcho de verdade, que mantém as tradições, preza pela boa
vida, sem muito luxo, mas bem vivida.
Segundo
um documento produzido por sua esposa, Bela Regina da Silva Aires, Erni nasceu
no segundo distrito de Piratini, no dia 15 de junho de 1937. Filho de Angenor
Alves Martins e de Elvira Pereira Alves, residiu até 1967 no distrito com seus
pais e seu irmão, Edar Pereira Alves.
O gaudério de coração mudou-se para Piratini
em 1972, onde começou com os
rodeios e shows que passaram por todo o Rio Grande do Sul. Trabalhou com
artistas de nome internacional como Darci Fagundes, Gildo de Freitas, Gaúcho da
Fronteira, Valdomiro Melo, Ademar Silva, Moraezinho, Formiguinha, Crioulo dos
Pampas, Francisco Vargas, Ana Paula, Cláudio Rodrigues, entre tantos outros.
Produziu também um rodeio na cidade de Passo Fundo, na fazenda Capão Alto, para
a filmagem de “Gaúcho de Passo Fundo”, filme de Teixeirinha.
O mestre dos poemas, trovas e versos levou o
nome de Piratini para todos os cantos do Rio Grande do Sul, Paraná e também ao
Paraguai. Residia com sua esposa e seus filhos Éber Aires Alves, o “mandico”, e
Eides Aires Alves, o “mandiquinho” no Passo da Batalha, até que foi
hospitalizado em Pelotas com um infarto agudo, vindo a falecer no dia 21 de
março de 2005.
Eternizado pelas vinhetas do “programete”
Tiro de Laço, transmitido de hora em hora pela Rádio Nativa FM 93.9, Erni
mantinha a tradição gaúcha não só nos versos, o que praticava desde a época em
que produzia rodeios na década de 70, quando conectava o microfone na bateria
dos carros e mostrava seu dom, mas através de seus filhos Éber e Eides. “Cresci
vendo meu pai fazer os versos”, disse Éber, o filho mais velho, conhecido como
“mandico” - apelido dado pelo pai. “Ele tinha uma facilidade horrorosa em fazer
música, mas era natural dele. Fazia as vinhetas por gostar, por que amava,
nunca pensou em dinheiro”, completou.
Além da tradição cultural, os filhos
receberam como herança o respeito pela terra. “Nos criamos no sistema do pai, e
mantemos até hoje. O mesmo modo de trabalho, de caráter, de idealismo, de
gaúcho mesmo!”, disse Éber, emocionado. Segundo mandico, essa época do ano era
a Copa do Mundo de Erni. “Ele acreditava na cultura, mas falava muito do gaúcho
só do 20 de Setembro, que se pilchava na data e depois esquecia. Isso ele era
contra”.
O “bugre criado neste Rio Grande velho”, como
Erni mesmo se intitulou em uma de suas letras, gostava mesmo da vida de rodeio,
e o cavalo, sempre preto, era como parte do corpo do gaúcho. “A expressão dele
chamava a atenção, tinha o jeito natural de gaúcho de falar as coisas, que era
dele mesmo, sem imitar ninguém. Se criou domando cavalo e vivia pelos arredores
do Rio Grande do Sul”, disse o filho.
O símbolo gaúcho da região foi e continuará
sendo o exemplo do que é ter orgulho da cultura do Rio Grande do Sul, sem
modismos, respeitando as tradições. Como disse mandico, “ele queria viver bem,
no jeito dele. Queria viver a vida dele, aproveitar, criar os filhos, sem
pensar em posse, e deixar sua marca na história, e deixou”.
Redator: Tradição
Regional (Permitimos a reprodução total ou parcial da matéria desde que citada
fonte)
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